Já está quase provada, ainda que não cientificamente, a teoria de que o pop escandinavo se encontra dentro de uma bolha de vidro, perdido num limbo de tempo/espaço inclassificável. Isso porque, mesmo que a cena musical de lá não seja nenhuma novidade e esteja entre as mais prolíficas do globo, ainda é um completo chute no escuro imaginar como vai soar a próxima novidade a emergir dos rincões gelados do norte europeu.
À primeira vista, o som da jovem Lykke Li pode até depor contra essa teoria. A cantora, saída de Estocolmo, capital da Suécia, se fez notar pela primeira vez graças a “Little Bit”, uma singela jóia de cristal que, afora seu atômico potencial pop devorador de atenções, não vai muito longe na fórmula já exercitada por alguns de seus compatriotas. Mas o lançamento de seu álbum de estréia, Youth Novels, prova que a garota sabe fazer muito mais que desenrolar um gogó encantador sobre bases instrumentais de folk.
O disco saiu no fim de janeiro, pela LL Recordings, e contou a produção de Björn Yttling - um dos membros do trio Peter, Bjorn & John, que reza a lenda tocam no Brasil ainda esse semestre. O resultado é uma reunião de doze faixas que passeiam por paisagens tão díspares quanto o folk eletro-acústico e o synth-pop trevoso à la The Knife. Entre os temas das canções, Lykke pode falar sem constrangimentos sobre um trompete que ela não consegue tirar da cabeça ou sobre amores surrealistas em terras gélidas, justificando o título do álbum e abusando de experimentalismos técnicos - como nas vozes distorcidas de “Breaking it Up”.
Se comparada a algumas de suas compatriotas como Sally Shapiro ou Robyn, a música de Lykke soa mais orgânica e menos influenciada pelo synth-pop e pela ítalo-disco dos anos 80. Os sintetizadores dificilmente predominam no arranjo, com poucas exceções como em “Complaint Department”, destaque do lado menos iluminado de Youth Novels e que não causaria espanto caso tivesse a produção assinada por Olof Dreijer.
Apesar do hit de Youth Novels ser mesmo “Little Bit” e seus versos apaixonados (”Eu apertaria o gatilho / escalaria uma montanha / pularia de um penhasco / porque você sabe, eu amo você”), há algumas outras pérolas que chamam a atenção à primeira ouvida. “Let It Fall” lembra as canções da jovem inglesa Kate Nash - ainda que com uma dose extra de originalidade - e “I’m Good. I’m Gone” aposta no pop eletrônico, com vocais distorcidos por um efeito robótico e refrão envolvente. O animado coral de “Breaking It Up” também é uma boa pedida para momentos do dia que exigem um estímulo extra à produção de serotonina.
Não se engane. Apesar da impressão emo-folk que as músicas de Lykke possam causar ao primeiro contato, Youth Novels é um álbum muito mais rico, tanto em seus temas quanto na sua sonoridade. A capacidade de se equilibrar entre o som amortizado de um Perro Del Mar e a efusão sintética de uma Annie faz da cantora sueca mais uma das boas surpresas que corroboram com a teoria de que a Escandinávia fica mesmo localizada em uma quarta dimensão musical.
postado por Paulo Sattamini às
12:18:00 PM
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